Uma polêmica tem marcado o mundo do futebol. Muitos jogadores têm se posicionado contra o uso de gramado sintético no futebol brasileiro. Foi o caso de Neymar, Lucas Moura, Memphis Depay e Gerson, que divulgaram um comunicado conjunto.
A manifestação dos atletas ressalta preocupações com a qualidade do jogo e, principalmente, com a saúde dos atletas. Em 2023, no Campeonato Brasileiro, a cada 10 partidas, 1,62 lesão de grau 2 ou 3 ocorreu em gramados artificiais. Em contrapartida, em gramados de grama natural, o número cai para 0,4 lesão. Nesse caso, o gramado sintético causou mais lesões que o natural.
A principal preocupação dos atletas reside na biomecânica das superfícies artificiais. Diferentemente da grama natural, que oferece amortecimento e menor atrito, os gramados sintéticos são mais rígidos e aumentam o atrito com as chuteiras, elevando o risco de lesões.
Quais os riscos do gramado sintético e como minimizá-los?
“Nos gramados sintéticos, o pé tende a travar no solo, dificultando movimentos naturais e aumentando a incidência de entorses e lesões ligamentares, especialmente no ligamento cruzado anterior (LCA), que podem afastar os jogadores por longos períodos”, explicou Dr. Brasil Sales, médico ortopedista e especialista em medicina intervencionista da dor, formado pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.
O médico ainda explica que, além das lesões ligamentares, há um aumento na ocorrência de fraturas por estresse e tendinites em campos artificiais.
“A rigidez do piso contribui para uma maior sobrecarga nas articulações e músculos, resultando em dores crônicas e potencial redução da longevidade na carreira dos atletas. O impacto repetitivo pode levar a microlesões que, acumuladas, evoluem para quadros mais graves”, alertou Dr. Brasil.
Para minimizar os riscos causados pelo gramado sintético, os atletas devem adotar medidas preventivas, como adotar o uso de calçados adequados para gramados sintéticos. Eles podem ajudar a reduzir o atrito e melhorar a distribuição da pressão nos pés.
Outra forma de diminuir os riscos de lesão em gramados sintéticos é fazer programas de fortalecimento muscular focados em tornozelos e joelhos, para proporcionar maior estabilidade articular.
“Exercícios de propriocepção e equilíbrio devem ser incorporados na rotina de treinamento para preparar o corpo para as especificidades do jogo em superfícies artificiais”, explicou o médico especialista.
Principais clubes brasileiros que já adotaram o gramado sintético
Palmeiras, Botafogo, Athletico Paranaense e, mais recentemente, Atlético Mineiro, adotaram gramados sintéticos em seus estádios. O Athletico-PR foi o primeiro, implementando o piso artificial na Ligga Arena em 2016. O Palmeiras veio em seguida, instalando grama sintética no Allianz Parque, e o Botafogo adotou a superfície no Estádio Nilton Santos. Em dezembro de 2024, o Atlético Mineiro anunciou a transição em seu estádio.
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O futuro do gramado sintético no futebol brasileiro
O uso de gramado sintético é proibido nas principais ligas de futebol da Europa, incluindo Alemanha, Espanha, França, Holanda, Inglaterra, Itália e Portugal. Além disso, a Comissão Europeia planeja eliminar gradualmente esses campos em todas as instalações esportivas até 2031 para reduzir a poluição por microplásticos.
No Brasil, o debate sobre a segurança dos gramados sintéticos tem ganhado destaque, especialmente após críticas de jogadores importantes. Enquanto alguns clubes defendem o uso dessas superfícies com base em certificações e estudos que comprovam sua segurança, os atletas alertam para a importância de priorizar a saúde e o bem-estar dos jogadores.
“É fundamental que haja um diálogo aberto entre jogadores, clubes e entidades responsáveis para avaliar os reais impactos dos gramados sintéticos e buscar soluções que garantam a integridade física dos atletas”, concluiu Dr. Brasil Sales.